Por que João Gomes não encontrou quem projetasse sua casa brasileira? O apagamento da identidade nas residências e o apelo por materiais, alpendres e cobogós

Por que João Gomes não encontrou quem projetasse sua casa brasileira? O apagamento da identidade nas residências e o apelo por materiais, alpendres e cobogós

Arquitetos brasileiros refletem sobre como a arquitetura contemporânea vem apagando traços locais e propõem um retorno à prática construída a partir do território

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A pergunta que circulou nas redes — por que João Gomes não encontrou quem projetasse sua casa brasileira? — é menos sobre uma única casa e mais sobre um padrão. Nas últimas décadas, casas e apartamentos em cidades e interior vêm perdendo elementos que tipificam a arquitetura brasileira: cobogós, alpendres, ladrilhos hidráulicos, uso de palha e outras técnicas locais. Profissionais e moradores notam uma homogeneidade crescente, resultado de escolhas estéticas, pressões do mercado e esquecimento de saberes tradicionais.

O que explica o apagamento

Especialistas apontam fatores convergentes: a globalização das referências de design; a predominância de construtoras e incorporadoras que priorizam custo e rapidez; normas técnicas e exigências legais que muitas vezes não contemplam soluções vernaculares; e a desvalorização de ofícios e materiais locais. O resultado é um parque habitacional que pouco dialoga com clima, paisagem e cultura regional.

Materiais e memórias em risco

Elementos como cobogós — blocos vazados que controlam luz e ventilação — ou alpendres que protegem da chuva e permitem convívio ao ar livre, não são só ornamento: respondem a um território e ao clima. Ladrilhos hidráulicos e acabamentos em palha carregam memórias e economia local. Quando desaparecem, sai também um trecho da identidade das cidades e vilarejos.

Arquitetura que integra: exemplos e alternativas

Projetos que ainda apostam nessa reconexão combinam integração com natureza, materiais autorais e estratégias de conforto térmico passivo. Em São Paulo, por exemplo, há moradias contemporâneas que privilegiam integração com áreas verdes e uso de materiais naturais, demonstrando que é possível conciliar modernidade e tradição sem virar nostalgia.

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Como retomar o território — passos práticos

Arquitetos e especialistas sugerem medidas concretas: buscar profissionais com conhecimento em arquitetura vernacular; valorizar e contratar artesãos locais; incluir sistemas passivos de ventilação e sombreamento; e adaptar normas para permitir soluções regionalizadas. Para moradores, a dica é priorizar projeto sob medida, pesquisar materiais locais e olhar além das tendências de catálogo.

O debate é também político e cultural: recuperar a casa ‘brasileira’ implica reconhecer o valor dos saberes locais, estimular cadeias produtivas regionais e repensar padrões de consumo na habitação. A escolha entre fachadas padronizadas ou laços com o território tem efeitos imediatos no conforto, na economia local e na memória coletiva.

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